Atritos na Família
Ter neste mundo um(a) esposo(a), pais e filhos, deve ser considerado como uma grande misericórdia e cuidar deles adequadamente é um requisito natural. Não se espera que seja fácil, pois amar significa sofrer: se amo uma pessoa e essa pessoa não está bem, isso também me afetará e, portanto, amar e sofrer são sinônimos. A indiferença significa que nada tem importância e essa atitude não é espiritual. Não se pode ser indiferente, pois amar a família significa ter disposição para sacrificar-se por ela. Porém, neste mundo isso não funciona muito, porque o egoísmo dos indivíduos é muito forte e quando seus interesses pessoais são subestimados, é comum ver-se a renúncia aos compromissos buscando a vã felicidade de outras maneiras. E como seria possível buscar a felicidade de outras maneiras, com outra pessoa, quando já se causou grande sofrimento aos outros? Essa é a maior ilusão, é o paraíso dos tolos. Devemos cumprir com nossas obrigações com o coração. Se alguém quiser superar os atritos na família, causados pelo egoísmo, deve levar em conta que o domínio sobre outra pessoa, isto é, subjugar ao outro através da própria força, não trará efeitos positivos e permanentes, ao contrário, será mais um problema recorrente. As dificuldades familiares somente podem ser superadas quando ambos, falando-se do casal, estão de acordo no que diz respeito a fazer as coisas baseados no sentimento de bem estar comum. Se cada um lutar pelo bem estar da família baseados em Deus, aí sim, terão um belo resultado. Para Deus não existe a idéia “para meu bem estar, tenho que esmagar aos outros”; esse tipo de raciocínio existe apenas no mundo do egoísmo. No mundo da devoção sincera, sob a guia de um mestre espiritual e invocando a orientação dos santos nomes de Deus e das sagradas escrituras, não é possível surgir a idéia de esmagar os direitos dos outros. Em outras palavras, consciência de Deus é a maior benção para as famílias e isso ajudará muito para que possamos seguir adiante. Nas famílias todos os atritos devem ser evitados através dos istagosthis (reuniões harmoniosas onde se supera obstáculos e se destacam as realizações), do estudo das Escrituras e do exercício da capacidade de escutar. Em uma família, os planos para curto, médio e longo prazos devem ser todos finalizados através da conversa. O homem não deve se esquecer que a mulher é a deusa da fortuna e em uma casa onde ela não é bem tratada, nenhuma fortuna chegará ali, mas somente lamúrias. A mulher deve pensar que o homem disposto a protegê-la é um presente de Deus e fará o melhor para que tudo seja perfeitamente harmonioso. Complementar-se significa abandonar o espírito de competição, deixar de lado a idéia de como conseguir mais e pensar sobre como se tornar mais útil para fazer feliz a família. Essa disposição trará muita energia favorável para a família, pois a competência estará baseada em quem se dedica mais aos demais, sendo que isso trará bons resultados. Por isso, os atritos que acontecem na família devem ser consideradas etapas para crescer e não razões para desespero. Porque também dentro do conflito chega o momento em que é possível reconhecer os próprios erros. Não há mal que não esconda algo de bom, pois como ensina a cultura védica, devemos nos entregar completamente à vida espiritual, deixando de lado os assuntos materiais. Entretanto, essa renúncia chega quando os filhos já estão grandes e os pais, estando de acordo em viajar e preparar-se espiritualmente para apoiar a pregação do mestre espiritual, sem estarem apegados às comodidades matérias, nem frustrados pelo envelhecimento do corpo que já não proporciona o desfrute de antes. A letra de uma canção composta por Inaín Castañeda, onde os filhos pedem ajuda aos pais para que não destruam a família. “Papai e mamãe, por favor, quero que falemos, sei que sou muito pequeno, mas vejo a realidade. Vocês dois andam para cima e para baixo blasfemando a todo instante, sem poder se suportar. Por favor, pensem com a cabeça fria; eu sei que a vida é dura, mas tudo se pode dar um jeito. Quando vocês dois estiveram juntos pela primeira vez era como se tivessem encontrado o paraíso na terra. E agora, com o passar do tempo, escuto que nada disso teve importância, que o amor fracassou e que pensam em se divorciar. Mas não entendo… Se o amor é o maior e mais radiante dos tesouros que a humanidade tem, por que vocês estão pisoteando tudo que há de divino e querem seguir por caminhos diferentes? E eu, que sou apenas uma criança, me encontro a ponto de naufragar e me atrevo a pensar que não vim a este mundo como fruto daquele amor desejado, mas para minha desgraça, somente por um gozo sexual. Papai e Mamãe vejam como estou chorando. Ainda me sinto indefeso para começar a lutar! Vocês dois já conhecem a vida, mas, por favor, não permitam que eu a maldiga sem ao menos começar a viver. Por favor, lembrem do dia de seu casamento, quando frente ao altar juraram amor eterno. Lembrem quando lhes disseram, depois daquele longo beijo, que aquilo que Deus uniu somente a morte poderia separar. Além disso, naquele tempo não importavam os defeitos, pois tudo era perfeito. Não acham que é um pouco tarde para começar a lamentar? Eu não entendo como é o amor dos adultos, pois vêem que meu amor quer transbordar, mas mesmo assim, não se importam com meu destino, fazendo com que eu escolha com quem eu quero ficar. Isso é total absurdo porque vocês dois são meus pais e na verdade não os tenho mais, como um só ser, os dois são minha realidade, somos uma família. É assim que vejo, mas vocês não dão valor e esse erro será fatal, papai e mamãe. Máxima: “Amar a família significa ter disposição para sacrificar-se por ela.”
Fonte: Coleção Sabedoria Védica
Autor: Swami B.A. Paramadvaiti
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